Juliana Calderón, uma das disseminadoras da CNV (Comunicação Não-Violenta) no Brasil, explana em um de seus cursos, sobre o  conceito de conflito de uma forma como sempre me identifiquei e sonhei buscar em alguma literatura.

Ela cita que o conflito vai sempre existir . Mais do que isso: ele é essencial para nosso desenvolvimento e para a evolução da sociedade. É ele que nos movimenta,nos faz buscar por novas soluções e desperta diferentes mentalidades que precisam ser acordadas.

O importante é saber de que forma esses conflitos estão sendo administrados.

A comunicação é uma ferramenta muito eficaz na resolução de conflitos . Ela ajuda a encará-lo e nutri-lo da melhor forma possível, a fim de criar consciência a respeito da diversidade e da complexidade das relações humanas. A CNV é utilizada em mais de 60 países para estabelecer acordos de paz. Sua escala, que cresce cada vez mais, está atingindo mais do que parcerias, acordos e estruturas sociais. Ela está atingindo pessoas. Mais especificamente o coração delas.

A escola é um terreno fértil para desenvolver as competências pessoais e sociais no nível da educação para cidadania. O ambiente escolar é um local privilegiado para socialização e nele pode haver o desenvolvimento de sentimentos, afetos e emoções que podem gerar conflitos. Estes podem ser criados em consequência de diferenças culturais e ideológicas da individualização provocados igualmente pela falta de limites que se acentuam continuamente. É no contexto heterogêneo da escola ,onde os direitos e deveres de cada ser humano na sociedade encontram-se inseridos, que os mediadores se revestem de especial importância para mobilizar a capacidade de comunicação e conhecimento que cada um dispõe para gerir as situações de conflitos instituídas na sociedade contemporânea pois a mediação possui caráter preventivo e educativo.

Lembra daquela aula na época da escola, em que aprendemos a estabelecer conexões saudáveis com outras pessoas, compreender o outro, ter diálogos construtivos e discordar sem brigar? Vasculha aí na memória sem pressa.

Sabe porque você não lembra muito bem? Porque essa aula nunca aconteceu.

Na maioria das escolas por aí, ninguém aprende nada sobre relacionamento e comunicação interpessoal .Passamos anos decorando a fórmula de Bhaskara, desenhando o caminho do alimento até o intestino e entendendo o relevo do Brasil. Tudo isso para sair da escola, arrumar um emprego e ser demitido por não saber trabalhar em equipe ou colaborar dentro de projetos.Chegamos a um momento histórico em que se faz necessário inserirmos esse tipo de competências socioemocionais comtempladas na BNCC.

O professor Celso Antunes, acadêmico muito conhecido no Brasil, autor de diversos livros, no vídeo abaixo se posiciona sobre a importância de se rever o que de fato é relevante para ser trabalhado nas escolas diante deste novo cenário que exige urgentemente o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

Para que as Competências Socioemocionais sejam trabalhadas é fundamental que o educador tenha clareza dessas competências e apoie e monitore os alunos quanto ao exercício delas.

Marcos Meier e Sandra Garcia (2007), pautados em Feuerstein, apontam alguns critérios de mediação, em consonância com ações apoiadas nas competências socioemocionais, que podem ser transpostos para a sala de aula, a saber:

  1. Intencionalidade e reciprocidade: o educador deve apresentar objetivos/metas claras e concretas (assim produzirá maior reciprocidade entre os alunos).
  2. Significado: o educador deve explicar o conceito (relacionado ao tema trabalhado na aula) e suas implicações com outros conceitos de modo claro e objetivo verificando se o aluno os compreendeu.
  3. Transcendência: o educador deve articular as aprendizagens de modo que transcendam o “aqui e agora”, favorecendo o aluno a pensar sobre as implicações do que está sendo “dito e feito”.
  4. Competência: o educador deve proporcionar que o aluno se sinta “capaz” de aprender, favorecendo sua motivação e autoestima. Ou seja, deve oportunizar situações em que o aluno obtenha sucesso. Para isso, as aulas, avaliações, linguagens etc. devem estar de acordo com o nível do aluno para o tema abordado. O feedback ao aluno é fundamental!
  5. Regulação e controle do comportamento: o educador deve apoiar o aluno a controlar/regular suas ações nas diferentes situações, incluindo as estressoras. Portanto, apoiar a discussão reflexiva, com o aluno e no grupo, é importante!
  6. Compartilhar: o educador deve manter e reforçar o clima escolar de respeito, ajuda mútua e valorizar a importância do controle das emoções, da comunicação clara e respeitosa, do balanceamento entre os objetivos/metas pessoais e do grupo. Situações de debate, troca de ideias e afins são de fundamental importância!
  7. Individuação e diferenciação psicológica: o educador deve valorizar as diferenças, desenvolvendo a consciência e a singularidade de cada aluno – e como ela pode coabitar com o grupo e fortalecê-lo.
  8. Planejamento e busca por objetivos: o educador pode apoiar o aluno na identificação de suas metas (objetivas, claras e que respeitem os demais) e ajudá-lo no planejamento (concreto e com passos possíveis de serem realizados) para que essas metas sejam alcançadas. A conversa e as estratégias para análise (como antecipação por imagens mentais) são de suma importância.
  9. Procura pelo novo e pela complexidade: o educador deve propor situações desafiadoras e incentivar a sua resolução de modo respeitoso.
  10. Consciência da modificabilidade: o educador deve sempre buscar novos caminhos, recursos, estratégias etc., de forma a apoiar a todos os alunos (nunca desistir de um aluno quando a maioria já dominou um assunto, situação etc.).
  11. Sentimento de pertença: o educador deve apoiar o aluno a identificar as pessoas que se aproximam ou que se identificam com ele, em outras palavras, o educador deve auxiliar os alunos a se sentirem pertencentes a um grupo.
  12. Construção do vínculo: o educador deve buscar vincular-se aos alunos e vice-versa. O vínculo é fundamental para a ação em grupo!

Um bom exemplo de onde essa mediação poderia desenvolver as competências socioemocionais dos alunos está nas páginas 8 e 9 do Caderno de boas práticas (CP_EF-AF_006 e CP_EF-AF_007) em que é proposto pensar a linguagem (e a prática escolar) como prática social.

Nessa atividade, é sugerido o desenvolvimento de um jornal escolar que contasse com a participação ativa dos alunos e trabalhasse temas do cotidiano e universo estudantil, relevantes para a comunidade escolar.

Em um desdobramento simples e que não pretende esgotar toda a discussão e o trabalho em competências socioemocionais, durante a produção desse jornal, os educadores poderiam, por meio de uma roda de conversa, verificar as forças e limitações de cada aluno (trabalhando a competência de autoconsciência), mediar a participação de cada aluno com base nessa análise de limite e potencialidade e auxiliar os alunos nas tomadas de decisão sobre os temas, textos etc. (trabalhando as competências de autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável).

Nesse processo, o educador pode apresentar claramente e objetivamente os propósitos do jornal, as tarefas de cada aluno e as metas individuais e do grupo.

Durante a produção do jornal, o educador pode:

  • a) incentivar e valorizar a reciprocidade;
  • b) incentivar a transcendência ou implicações da produção escrita;
  • c) valorizar a capacidade de cada aluno e do grupo (auxiliando a escolha de tarefas a partir das potencialidades de cada aluno);
  • d) valorizar a regulação (ao mediar conflitos que possam surgir, por exemplo);
  • e) incentivar e valorizar o compartilhar (em que todos os alunos tenham voz ativa, mas saibam respeitar os demais) e;
  • f) respeitar a singularidade de cada aluno.

Ao sugerir novos temas desafiadores para o conteúdo do jornal, o educador cria novas oportunidades para desenvolver as competências socioemocionais dos alunos e a participação ativa de todos, com a devida mediação do educador, favorece o estabelecimento de vínculo e o respeito. Em outras palavras, nessa atividade é possível combater o bullying na escola por meio das competências socioemocionais.

Para os educadores fica o desafio de alinhar as práticas de sala de aula (e fora de sala de aula) com os pressupostos aqui apresentados, relacionados às competências socioemocionais, com a certeza de que a mudança alcançada não apenas auxiliará no desempenho acadêmico e cognitivo dos alunos, mas também promoverá um clima escolar mais respeitoso e empático (combatendo o bullying) com impactos em toda a vida dos alunos e da sociedade.

O papel do Setor Multidisciplinar é continuar estabelecendo a parceria de ser a PONTE de ligação entre a escola e o aluno construindo um novo cenário na educação municipal de Nova Friburgo, através da implementação dos conceitos explanados nesse texto.

PARA SE APROFUNDAR MAIS NO ASSUNTO, CLIQUE NO LINK ABAIXO E ACESSE A PÁGINA DA EQUIPE DOS ANOS FINAIS.

https://smenf.wordpress.com/category/anos-finais/atividades-socioemocionais/

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